Primeiro prémio de poesia nos jogos Florais
de Portugal de 1952
Canta Camarada, canta
Aquela cantiga lenta
Que é dor, amor e tormenta
A estrangular a garganta.
Canta Camarada, canta...
Firme naterra firme
Com pés e mãos calejadas,
Tens fome da Lua Cheia
E olhos fitos nas longadas...
Bêbado de melancolia,
Não procuras nem encontras...
Navalhas cortam o pescoço!
Unge-te a luz em afronta!
Transfigurado em plangências
Confessa-me os teus segredos...
Sei também o que são medos,
Medos da libertação...
Ó noites frias de Inverno!
Tardes cálidas de Verão!
Estradas e caminhos sós!
E tu dobrado em ti mesmo
A escutar a própriavoz.
Designio, místico encanto,
Desfiando-se sobre o abismo
As lembranças, uma a uma,
Que sonho, o mistério e a glória
Te deram sorte e infortúnio!
E a história-Deus-é só uma...
Quando passas com o arado
Agarrado ao rabanejo
És Cristo crucificado
Do meu e teu Alentejo!
Quem te ensinou a cantar?
A tua resposta é breve:
Lavrando a terra molhada,
Lá na solidão dos campos,
Pensando na minha amada.
Adeus cantador de Serpa,
Goza a tua desventura.
Transfigurado e ascendente,
Teu canto é ai de amargura!
As botas enlameadas,
Os pés firmes no sub-solo,
As mãos-as mãoscalejadas...
E avoz ecoa e reboa
Dum pólo até outro pólo.
Canta Camarada,canta!
Já cantaram os teus pais,
Teus irmãos e teus avós,
Agora é a tua voz.
Cantaste deste menino...
Haja fome,peste e guerra,
Cantar é o teu destino.
Venha Deus de novo á Terra.
Poema de AZINHAL ABELHO
.
domingo, 25 de março de 2012
quarta-feira, 21 de março de 2012
No Monte
No Monte
No Monte o lavrador,cansado da labutaDo
Do dia que passou, monótono e indolente,
São oito horas,ceou, recolheu-se e já dorme,
Feliz por medrar as terras que desfruta.
A lavradora, não; activa e resoluta,
Moireja até mais tarde e desca nsa conforme
A faina lhe consente e a barafunda enorme
De homens e de animais que em derredor se escuta.
Mas a filha, que tem vinte anos e que sente,
Nas solidões da herdade, a alma descontente
E o sangue a referver num sonho tresloucado,
Encosta-se á janela; ouvem-se as rãs e os grilos;
E os olhos de azeviche, ardentes tranquilos,
Ficam-se horas a olhar as sombras do montado...
DO CONDE DE MONSARAZ..- IN ALMANAQUE ALENTEJANO 1950
No Monte o lavrador,cansado da labutaDo
Do dia que passou, monótono e indolente,
São oito horas,ceou, recolheu-se e já dorme,
Feliz por medrar as terras que desfruta.
A lavradora, não; activa e resoluta,
Moireja até mais tarde e desca nsa conforme
A faina lhe consente e a barafunda enorme
De homens e de animais que em derredor se escuta.
Mas a filha, que tem vinte anos e que sente,
Nas solidões da herdade, a alma descontente
E o sangue a referver num sonho tresloucado,
Encosta-se á janela; ouvem-se as rãs e os grilos;
E os olhos de azeviche, ardentes tranquilos,
Ficam-se horas a olhar as sombras do montado...
DO CONDE DE MONSARAZ..- IN ALMANAQUE ALENTEJANO 1950
domingo, 18 de março de 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)